06 Oct
06Oct

Da antologia de Ryan Murphy e Ian Brennan, chegamos ao segundo capítulo deste projeto produzido para o streaming. O primeiro capítulo trouxe o macabro episódio de Jeffrey Dahmer, um jovem americano que extrapolou os limites da humanidade chocando todo o país com sua atitude cruel e psicopata. Desta vez, o foco se volta para um núcleo familiar mais concentrado. Narrativas mais concisas entre julgamento e o tribunal. Assistir dois irmãos que decidem tirar a vida dos próprios pais é uma história que não é muito simples de narrar e nem mesmo de acompanhar. Contudo, o legado que Murphy vem construindo com sua marca diante das telas consegue nos conquistar e nos fazer conferir suas obras. 

No novo capítulo, os atores Cooper Koch e Nicholas Alexander Chavez dão vida aos irmãos Erik e Lyle Menendez. A família Mendendez é bilionária, dona de um império e o sr. Menendez é um pai, marido e empresário bem-sucedido, ambicioso e ganancioso. Javier Bardem interpreta um Menendez que não tem nada de altruísta, é rigoroso em suas regras e enquanto marido também não é muito amoroso. Já Kitty Menendez é interpretada por Chloe Sevigny, que transmite a nós uma mulher pouco reconhecida numa família em que a maioria é homem. Kitty é aquele tipo de esposa rica e fútil. Formada em jornalismo, não exerce a profissão pois fica sempre à disposição do marido e filhos. O elenco ainda conta com o brilhantismo de Nathan Lane; Ari Graynor e Leslie Grossman. 


True Crime novelesco 

Diferente do primeiro capítulo, desta vez, Monstros assumiu a sua narrativa novelesca sem se preocupar com o que isso poderia lhes causar. E foi muito bom! É como se acompanhássemos uma série de traições, paixão e ódio, todos os clichês que uma boa novela possui para funcionar. Em Monstros: Irmãos Menendez vemos que a narrativa segue um ritmo crescente tentando nos fazer assumir um lado: ou o dos filhos ou o dos pais. Para isso, o segundo ato adiciona a advogada Leslie (Graynor), que assume o caso com o propósito de salvar os jovens da perpétua ou da pena de morte e adiciona o jornalista Dominick (Lane), que cobriu o caso. A dobradinha entre esses dois apimentou os episódios desde o segundo ato até o encerramento da série e nos fez acompanhar cada cena vidrados sem perder nenhum detalhe. 

Os Menendez, condenados à perpétua estão vivos e seguem cumprindo o resultado do julgamento. Até hoje eles afirmam a narrativa de que tirar a vida dos pais foi um ato em legítima defesa por conta dos abusos que sofreram. Este dado real também altera a narrativa em relação ao capítulo anterior, que vimos o acusado ser morto na prisão. O fato de narrar a história de alguém que ainda compartilha do ar que respiramos influencia na obra adaptada, e aqui entra o brilhantismo de Murphy e da sagacidade de Brennan em seu roteiro. O Caso dos Irmãos Menendez mereceu ter sua história contada por conta da grandiosidade impactante na cidade e em todo o país. 

Este capítulo antológico abandona a brutalidade para assumir a sensibilidade dos irmãos. Lyle e Erick possuem um amor de irmãos muito conectado e isso foi explorado com maestria e inteligência. Boa parte deste acerto merece crédito à atuação de Chaves, que nos apresentou um Lyle nevoso, nada tímido, com uma virilidade à flor da pele e sempre muito corajoso. E a atuação de Koch, que nos trouxe um Erick mais coadjuvante, quieto, um pouco medroso, mas muito inteligente. Chaves e Koch apresentam uma dupla de irmãos que não se repetem, na têm de comum, mas que se complementam, como se fossem “Pink e Cérebro”. Com a diferença de que a ignorância não habita em nenhum dos dois. Ambos são bastante inteligentes. 


Cuidado com o sensacionalismo 

O fato de termos personagens da área da comunicação jornalística no corpo do elenco e também na história, e, também, o fato de termos que adaptar uma história que deixa brechas para interpretações adversas, faz Murphy sempre pisar no freio para que o sensacionalismo e o julgamento não ganhem espaço interpretativo. Talvez este segundo capítulo da antologia tenha sofrido um pouco mais com isso. Numa certa altura nós conseguimos nos conectar com Dominick, com sua dor e com os caminhos jornalísticos que ele escolheu para narrar o seu ponto da história. Totalmente contra a absolvição dos irmãos, Dominick se valeu da humanidade ferida, não só da sua vida pessoal, como também da fraqueza humana de tantas pessoas que se viram naquele episódio trágico. 

O gesto de Dominick chegou atingir a consciência de Leslie. Se aqui afirmarmos que Leslie se deixou levar pelos sentimentos de Dominck, estaríamos abrindo as portas para uma nova linha interpretativa, e que a série não nos permitiria isso. Mas o que podemos afirmar com toda segurança é que Dominick conhece as artimanhas da escrita, do jornalismo e da linguagem persuasiva. Se ele persuadiu a população e o júri, cabe a cada um de nós tirar suas próprias conclusões. O que podemos afirmar é que os irmãos seguem cumprindo a sua pena, acreditando terem feito a coisa certa. Ryan Murphy e Ian Brennan já prepararam o terceiro capítulo desta antologia, e em breve vamos conferir o que eles fizeram ao recontar a história de Ed Gein.




Por Dione Afonso   |   Jornalista

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