Trazer à lume o palhaço de Pennywise foi uma boa proposta. A série, que expande o que vimos e aprendemos nos dois filmes de Andy Muschietti, não veio com a proposta de reescrever Stephen King a uma geração que está chegando, até porque, suas obras ainda permanecem no top dos leitores. It: Bem-Vindos à Derry expande o universo de forma positiva, reapresenta o terror que rodeia o personagem que Bill Skarsgard interpretou e o recoloca no topo entre os monstros mais assombrosos da cultura pop. Não há, entre os episódiso da série aquela nostalgia descontrolada e nem aquele fan servisse gratuito que envaidece a produção e a faz perder entre o sucesso e o esvaziamento de propósito. A primeira temporada se encerra com um saldo muito positivo e com a promessa de que ainda há muito a contar.
É difícil elencar aqui o elenco que deu vida aos personagens desta primeira temporada. A cada leva de crianças, ficamos perplexos e assustados, já um dos segredos de Pennywise é perpetuar entre futuros e passados e se entrelaçar num tempo volátil e nada sequencial. Mas o elenco principal foi comandado por Chris Chalk; James Remar; Jovan Adepo; Kimberly Norris Guerrero e Taylour Paige. As crianças do núcleo final são: Arian S. Cartaya (Rich); Matilda Lawler (Marge); Blake Cameron James (Will Hanton); Amanda Christine (Ronnie) e Clara Stack (Lilly). Will tornar-se-á pai de Mike, enquanto Marge será a mãe de Richie Tozier, ligação mitológica poderosa para o futuro da franquia.
A série é ambientada em 1962, com eventos que antecedem aos filmes. Mas, que fique claro, a entidade sobrenatural Pennywise não respeita a ordem temporal e natural. Entretanto, a data dos eventos que a série apresenta manifesta-se, de certa forma confiante e segura. A série, nesta primeira temporada, explorou a origem do palhaço, como que a criatura monstruosa e perigosa se formou. Há um pouco de cientificismo nessa narrativa, como, por exemplo, o elemento meteorológico, com pedras e rochas minerais de outro mundo que cai na terra e, depois, o episódio em que a entidade sobrenatural toma posse do corpo de um palhaço de circo e faz dele seu hospedeiro eterno. O vilarejo Derry, torna-se, neste caso, o palco das monstruosidades que este monstro realiza. Com um foco tenebroso em crianças, ele se alimenta do medo e se fortalece nos arredores daquele lugar.
Outra narrativa que foi muito bem desenvolvida parte dos adultos, comandada pelo General Francis Shaw (Remar) que confronta a líder indígena Rose (Guerrero). Enquanto Rose sabe do mal que a terra guarda e que ela e suas ancestrais deram a vida para manter preso, Shaw insiste em querer controlar este perigo e usá-lo a seu favor. Com interesses ambiciosos, políticos e sem contabilizar o mal que está prestes a tomar em mãos, Shaw realiza o maior erro de sua conjuntura. Há na série um ponto mais forte que dos filmes que é o poder e o valor do elenco infantil. Crianças que não se afastam e nem fogem do mal, muito pelo contrário, decidem pôr-se em risco e lutar para defender seus lares.
É aqui que Clara Stack (Lilly) vai ganhando protagonismo à medida que os episódios avançam. Aos poucos alia-se a ela Blake Cameron James (Will Hanton); Amanda Christine (Ronnie). Ressaltamos o tema do racismo muito bem elaborado dentro do roteiro. E como que para Ronnie foi difícil sua aproximação com Lilly. A mãe de Will, Charlotte (Paige) é quem encabeça o protagonismo negro dentro da história. Luta a favor do pai de Ronnie, injustamente preso pelo atentado no cinema, no primeiro episódio, e que apareceu nos trailers antes da série. O elenco tratou do tema com a delicadeza que ele carece. E, a maldade de Pennywise não se coligou com o do racismo, o que favoreceu que ambas as narrativas ganhassem caminhos próprios.
2025 está muito bem servido da temática. Ryan Coogler nos presenteou com o perfeito Pecadores e Zach Cregger nos surpreendeu com A Hora do Mal. Produções que se aproximam do que Andy Muschietti, Jason Fuchs e Barbara Muschietti fizeram com as letras de Stephen King. O episódio que trouxe o incêndio naquela cabana em que os generais negros tinham um pouco de liberdade, privacidade, sossego e alegria careceu de um pouco mais de coragem para falar sobre o espírito racista que rondava ali. Contudo, mesmo assim o saldo do episódio é muito bom. O sacrifício de Rich para salvar a melhor amiga foi muito bem colocado. Tirou-nos do elemento social do incêndio, mas serviu para dar palco à monstruosidade de Pennywise e ao que ele é disposto a fazer para se alimentar.
Portanto, se você ainda se pergunta se deveria assistir à série, deixamos aqui a nossa opinião honesta de que o trabalho está muito bem-feito. A história se conecta perfeitamente com o que King idealizou em suas páginas. Esteja preparado para não se despedir de personagens que você criou empatia, porque a temporada é assustadora na medida certa.
Por Dione Afonso | Jornalista