É uma década inteira! Stranger Things foi lançada em 2016 e o mundo dos Irmãos Duffer estava apenas começando. Millie Bobby Brown era uma criança e, desde então, foi se revelando uma grande e poderosa atriz. Entramos em Hawkins, uma cidade pequena, pacata, sem grandes acontecimentos que pudessem fazer o mundo para. E, de repente, aqueles primeiros episódios construíram uma história que foi capaz de nos prender e fazer a gente querer ainda mais. No segundo ano, lançado já em 2017, uma entidade do mal chamada Devorador de Mentes ainda continuava a atormentar o pequeno Will Byers. Mais uma vez seus melhores amigos se uniram para pôr um fim em todo aquele mal que ameaçava a vida daquelas crianças. Em 2019 veio a terceira temporada e a quarta foi lançada em 2022.
Com os eventos do Mundo Invertido avançando e se tornando algo muito maior do que o que nós poderíamos imaginar, a quinta temporada lança a segunda leva de episódios. No primeiro volume percebemos o quanto perigoso é tudo o que Vecna/001/Sr. Fulano/ Hernry (Jamie Campbell Bower) veio construindo. O Mundo Invertido é apenas uma cortina de fumaça para um plano muito maior e ainda mais louco. Enquanto o elenco principal, liderado pelos amigos de Will se preparam para o último plano mirabolante deles, esses episódios também abriram brechas para as emoções e para os diálogos essenciais, como o desabafo de Will (Noah Schnapp), feito de forma emocionante e muito bem construída. Eleven (Brown), Lucas (Caleb McLaughlin), Max (Sadie Sink), que agora retornou, Joyce (Winona Ryder), Hopper (David Harbour), Jonathan (Charlie Heaton), Steve (Joe Keery), Dustin (Gaten Matarazzo), Nancy (Natalia Dyer), Erica (Priah Ferguson) e Robin (Maya Hawke) estão agora, na reta final.
Um dos maiores presentes que Stranger Things vai deixar para nós é a amizade dentro e fora da série. Fica muito evidente o protagonismo entre Dustin e Steve. Claro, tudo começa há 10 anos quando Dustin, Lucas, Will e Mike tornam-se inseparáveis graças à amizade que se construiu na escola e num jogo de tabuleiro. Esse quarteto soube ensinar para nós que amigos de verdade nunca mentem uns para os outros e seja o que for, são inseparáveis. Nestes capítulos finais, com Dustin tendo que superar a morte de alguém que ele conheceu tão pouco tempo, mas que deu a vida para salvá-lo, o vemos com medo de perder mais alguém e a amizade que ele construiu, desde a temporada anterior com Steve é mágica e muito verdadeira. Os próprios adultos, Hopper e Joyce só se apaixonam depois de se tornarem grandes amigos. Ainda é muito vivo em nossa memória aquele Hopper da primeira temporada, policial, solitário, vivendo o luto e aquela Joyce, guerreira, feminista, batalhadora, também sozinha, mas forte.
Dez anos depois encontramos pessoas diferentes, crianças diferentes, famílias mudadas, as crianças cresceram e os perigos também. Mas uma coisa não mudou. Aquela amizade construída em 10 anos perdura e é o que ainda os mantém a salvos e de pé. O futuro de Will Byers no capítulo final que chegará daqui exatos uma semana é incerto e de difícil imaginação. Ou seja, são muitas as possibilidades do que pode acontecer com ele após o embate final com Vecna, mas, o fato dos Duffer dar a ele a chance de dizer quem é, revelar sua opção de vida e de sexualidade, dar a ele vez e voz, permite-nos sonhar um pouco com a sua glória depois desta grande batalha. A confissão de Will, dentro do contexto da série é poderosa, significativa e dá à comunidade a visibilidade de que precisa. Para nós, em pleno século XXI, a cena reverbera como um grito de libertação por tantos jovens que não conseguem viver livres por temerem uma sociedade incapaz de os compreenderem e aceitarem.
Temos dois imperativos complicados para discutir aqui e que nos deixa uma certa insegurança, tanto de roteiro, quanto para o desfecho final. Num primeiro instante, nós gostamos de ver a irmã da Eleven de volta, a 008 (Kali Prasad). Com a possibilidade de Will poder lutar no mesmo nível e com duas meninas fortes e poderosas, até sonhamos com um trio implacável. Contudo, os minutos finais do sétimo episódio tirou de nossas mentes essa possiblidade. A 008 parece ter outras intenções e nós costumamos acreditar na desconfiança de Hopper, mesmo com Eleven apostando o contrário. O outro imperativo é o exército que está sob os comandos da insuportável Dr. Kay (Linda Hamilton), que sonha em explorar os poderes do Mundo Invertido, sonha em controlar o Vecna como uma arma e em explorar Eleven. Acreditamos que esses dois imperativos podem mudar o rumo da história ou podem comprometer o roteiro, contudo, estamos ansiosos para o fim.
Por Dione Afonso | Jornalista