25 Apr
25Apr

George R. R. Martin é um escritor enigmático. Grandioso, por conta de suas criações literárias, ao mesmo tempo que se torna um ser difícil de se classificar. Com mais de décadas de escrita Martin ainda continua escrevendo em sua principal saga: As Crônicas de Gelo e Fogo. Atualmente trabalha na obra “Os Ventos do Inverno”, livro que também já acumula mais de 10 anos em sua produção. Inegavelmente, Martin é um escritor de renome. A fantasia ganha em suas mãos uma vasta interpretação e riqueza de detalhes e desafios. Nas Terras Perdidas é um de seus contos que ganhou uma adaptação para as telonas que reforça sua originalidade com as criações fictícias que seus universos dispõem. 

A obra é dirigida por Paul W. S. Anderson, que também co-assina o roteiro. No elenco, a protagonista Gray Alys é interpretada por Milla Jovovich ao lado de Boyce [Dave Batista]. Gray Alys é uma bruxa que possui uma regra de vida que determina seu valor e moral dentro da história: ela nunca nega um cliente. A força não está no quanto cada um pode pagar, mas em qual é o verdadeiro preço de cada serviço. Junto da dupla, Amara Okereke; Deirdre Mullins e Simon Loof completam o elenco. O filme é carregado das nuances de Martin, sobretudo no que diz respeito à saturação, ao universo criado e às estruturas narrativas. Enquanto Gray Alys precisa atender aos seus clientes, ela empreende uma jornada de descoberta ao lado de Boyce, lutando para resguardar a sua vida. 


Estética aliada à alta tecnologia 

O filme é um perfeito exemplo de como atualizar a Sétima Arte sem ferir seus princípios quando se alia à tecnologia avançada. Jovovich, que já está familiarizada com o nicho, consegue se atualizar com a obra quando precisa interagir com os artefatos tecnológicos que não tinha à sua disposição há quase 30 anos atrás. Gray Alys precisa embarcar numa jornada perigosa que irá custar muito de sua força, mas, sua aliança com Boyce a faz se tornar ainda mais imprevisível e menos generosa. A mitologia tenta misturar um pouco de religiosidade, magia e bruxaria com a ficção. As representações da igreja são fracas e deturpadas, não se encaixam muito bem na adaptação, mas, conseguem fazer a narrativa avançar, mesmo que lentamente. 

O que funciona muito bem é a química que se desenvolve entre Jovovich e Batista. Os artistas conseguem andar no mesmo ritmo e sintonizam harmoniosamente com seus pensamentos. Coreografam boas cenas de luta e faz da trama uma verdadeira jornada de caça ao tesouro perdido. Não esperávamos pelo plot twist. Foi uma grata surpresa, teve força reveladora e foi muito bem interpretada. A estética expressionista, que já é uma marca registrada nas adaptações das obras de Martin, contribui para o contexto originário da história. Mesmo que a saturação, a falta de cor, e os tons sempre muito escuros e sem luz nos incomode, a história funciona. Até mesmo o nascer do sol e a cena com tons pasteis sofrem com a saturação. 

A história, por fim, consegue misturar um pacato jogo de poder, traição, amor não-correspondido e jogo de interesse. A fachada religiosa acaba perdendo sua força. As mortes do último ato acabam acontecendo rápidos demais e o público não ganha a chance de questionar cada ação. Uma rainha que não é mais rainha. Uma bruxa que sente compaixão e um metamorfo que acaba se apaixonando. Parece que a ordem natural das coisas e da vida pode sofrer algumas variações e o que não é tão comum, acaba se tornando normal. O filme é breve, reflete positivamente a adaptação literária e se destaca com sua originalidade e respeito à história.




Por Dione Afonso  |  Jornalista


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