Em 2022, James Wan nos apresentou M3gan: uma história envolvendo uma robô comandada por IA com o propósito de suprir uma ausência na vida de uma garotinha que tragicamente perdeu sua família. Megan seria a sua nova amiga e que a defenderia de todo e qualquer mal... a qualquer custo... Contudo, já vimos este filme antes: 2001: Um Odisseia no Espaço (1968, Stanley Kubrick) e o divisor de águas AI – Inteligência Artificial (2001, Steven Spielberg); ainda citamos O Exterminador do Futuro (1984, James Cameron); Her (2014, Spike Jonze) e Matrix (2001-2021, irmãs Wachowski). Não ficam de fora os mais recentes como Atlas (2024, Brad Peyton); Alice: Subservience (2024, Scott Dale) e Acompanhante Perfeita (2025, Drew Hancock). Wan e Hancock apresentaram o tema dentro do gênero do terror, uma vez que a máquina se vira contra o ser humano e rebela-se aos comandos.
Três anos depois do grande sucesso, M3gan 2.0, desta vez comandado por Gerard Johnstone, abandona totalmente o clímax do horror e se envereda a algo semelhante a Wachowski e Cameron. Entretanto, não vá com tanta sede ao pote assim, pois a obra simplesmente altera seu gênero narrativo e tenta fazer das ações cômicas a sua mais poderosa arma. Se funcionou ou não... cabe a você fazer a experiência. Na nova história, a robô Megan está desativada, mas com seu sistema IA agindo às obscuras na casa de Gemma (Allison Williams) e Cady (Violet Mcgraw). Após invadir um poderoso sistema governamental do FBI uma nova ameaça robótica com o nome de Amélia e que possui os mesmos comandos de Megan força Gemma a trazer a boneca de volta para salvar suas vidas e inibir uma ameaça global.
Logicamente que o público foi com bastante vontade para as salas dos cinemas para conferir a nova aventura da robô Megan. O primeiro filme foi incrível e nos apresentou uma personagem que tinha um brilhante futuro. Alterar a boneca assustadora para uma heroína de ação e carismática não parece ter agradado e dentro da narrativa ela não conquistou muitos adeptos. M3gan 2.0, inclusive, exacerbou até mesmo os limites dos avanços tecnológicos, apresentando algo irreal demais. Gemma, no primeiro filme, era uma jovem mulher apaixonada pela tecnologia e tinha grandes projetos na área da neurociência capazes de salvar vidas e devolver a integridade de pessoas que poderiam se beneficiar de uma robótica consciente e ética. No segundo filme ela é uma pessoa insegura, medrosa e frustrada.
Mesmo com boas ações, o filme carece de contexto e seu núcleo narrativo se perde entre uma cena e outra. Talvez, se mantivesse o teor do terror do primeiro filme e continuasse a fazer de Megan uma ameaça, teria funcionado melhor. Hoje, a IAG é uma porta aberta ao nosso mundo que oferece inúmeras possibilidades que tramitam entre o perigo e as esperanças de um futuro melhor. Essa linha tênue entre o que de bom pode nos ofertar e o que de mal pode causar é um prato cheio para narrativas como esta. Johnstone também assinou o roteiro e, sua intenção era de apresentar um upgrade em relação à boneca, o que ele interpretou ser tirá-la do lado inimigo e torna-la uma aliada.
Antes de concluir esta opinião, é importante traçar a personalidade do personagem de Aristotle Athari, que deu vida a Christian Bradley. Athari nos entregou um excelente personagem. Alguém que conseguiu, e muito bem, nos guiar numa mentira descabida até o plot twist nos revelar seus reais interesses. O filme também não deixa de investir nos implantes de chips que auxiliam nos nossos movimentos e interferem em nossa consciência – talvez reassistir a Atlas de Peyton possa te ajudar a compreender melhor sobre o assunto – mesmo com Gemma lutando contra esta tecnologia. No final da história, Megan não parece receber uma promessa de sequência já que deu a entender que agora sua missão e sua existência se aliaram à amizade segura e pacífica.
Por Dione Afonso | Jornalista