Talvez a Fase 5 do Universo Cinematográfico da Marvel seja o mais fraco até então. Não é o mais confuso, contudo, as mais de 10 produções entre o desastroso Homem-Formiga: Quantumania e o impecável Demolidor de 2025, encontramos algumas – e muitas – pontas soltas que não se encaixam nem mesmo na própria narrativa. Tivemos maravilhosas surpresas como o terceiro volume de Guardiões da Galáxia e a aventura gratuita das bruxas em Agatha Desde Sempre. Em contrapartida, ficamos decepcionados com o que se tornou o trio em As Marvels e nem gostamos de lembrar que houve uma série chamada Invasão Secreta. Ainda navegam com um saldo positivo as trapaças de Deadpool e Wolverine e a nova equipe de Thunderbolts*, bem como Capitão América: Admirável Mundo Novo.
Encerrando a Fase 5, o MCU investe em Coração de Ferro. Protagonizada por Dominique Thorne como Riri Williams, a série é ambientada após os eventos de Pantera Negra: Wakanda Pra Sempre. Williams acaba se envolvendo com um grupo não muito correto liderado pelo O Capuz [Anthony Ramos] e precisará reunir forças, até mesmo da Magia Oculta para lidar com ameaças que vão além de sua compreensão. A série também traz o brilhantismo de Sacha Baron Cohen; Alden Ehrenreich; Regan Aliyah; Shea Couleé; Zoe Terakes. Anji White é Ronnie Williams, mãe de Riri e Natalie Parker, que é interpretada por Lyric Ross é a melhor amiga e que acaba se tornando uma IA para a nova armadura da “Coração de Ferro”.
Infelizmente, é impossível não comparar os novos 6 e curtos episódios com algo que a Marvel já está cansada em nos mostrar. Estamos diante da mesma história que vimos com Ms. Marvel; vimos também com Agatha e Billy Maximmoff e até Wanda Maximmoff nos mostrou algo parecido. Riri precisa lidar com os fracassos da vida, e, ao retornar para Chicago, ser expulsa do MIT e resistir em não contactar Wakanda e seus recentes amigos de lá, ela precisa lidar com o luto de ter perdido a melhor amiga Natalie e o padrasto. Para completar essa jornada, ela e sua mãe Ronnie também não mantém um relacionamento muito saudável, mas, positivamente, a série não investiu tanto assim neste drama familiar, o que nos ajudou.
Muitas referências aconteceram de forma muito sutis e gratuitas, como por exemplo, citar o mercado negro de Madripoor. A referência nos remonta à Falcão e o Soldado Invernal que nos trouxe de volta Sharon Carter, personagem de Emily Van Camp. Carter retorna ao MCU colocando uma dúvida sobre o mercado negro e se ela seria, de fato, a perigosa mercadora, já que na série não ficou claro se ela estaria do lado dos mocinhos ou dos vilões. Em Coração de Ferro, quem estava na mira deste esquema era a personagem de Coulée, uma hacker excepcional que foi “resgatada” por um golpe de misericórdia pelo Capuz. As indústrias Stark e toda a referência a Wakanda e Kamar Taj também aparecem na série. Apenas algo para “conectar” a história a todo o resto.
Tudo causa uma reviravolta quando Zelma Staton [Aliyah] entra em cena e, de repente, o que deveria ser uma jornada meio Tony Stark, vira, repentinamente, algo mais voltado para Dr. Estranho. Inclusive, são mencionados Steve Strange e até Kamar Taj. O Capuz, um bom personagem, aliás, faz as vezes do lado mal da história. Ainda é cedo para chama-lo de vilão e se você é seguido fiel do MCU sabe do que estamos falando. Ele mantém sob seu poder uma força que desconhece, através de um manto muito semelhante ao que Dr. Estranho usa, contudo, através dos conhecimentos de Zelma e sua mãe, descobrimos que a magia que o manto carrega é da dimensão obscura, do lado negro da magia, algo bem semelhante ao que Dormammu possui. Toda essa reviravolta que acaba não fazendo muito sentido faz a Marvel tornar-se refém de sua própria piada: a chegada, finalmente, de Mephisto, ao MCU.
Cohen nos entrega um demônio muito bem apresentado e honesto. Talvez seja o grande ganho que temos nesses seis episódios. Riri acaba se tornando coadjuvante de sua própria história. Na primeira metade da série nós nos encantamos com a equipe liderada pelo Capuz. Jovens muito bons, carismáticos, criativos e inteligentes. Já a segunda metade, a magia rouba a cena e Riri torna-se apenas um motor que vai nos encaminhando para um final que parece não terminar. Infelizmente, a personagem não é boa, a atuação da atriz não convence, a heroína não faz diferença se existirá ou não no MCU. A Fase 5 termina assim: sem saber por que ela começou e sem se importar com o que aconteceu no meio do caminho com as outras produções. Agora, chegará a nós a Fase 6, sendo iniciada no próximo mês com a promissora família do Quarteto Fantástico.
Por Dione Afonso | Jornalista