03 May
03May

Encerrando a Fase 5 – pelo menos era o que foi prometido – o novo longa da Marvel resolve trazer de volta antigos [e novos] personagens a fim de reconstruir alguma equipe de super-heróis. Em teoria, esta fase se encerraria agora com um time de desajustados, abrindo portas para um futuro que iria culminar em “Guerras Secretas”, com uma possível nova formação do time dos Vingadores. Nesta Fase, pudemos assistir como que foi a perspectiva de termos Sam Wilson como o novo Capitão América. Em Admirável Mundo Novoo título é bem autossugestivo ao tentar nos convencer de que uma nova era está chegando. Contudo, percebe-se que a narrativa que nos foi proposta não agradou muito o público. Nesse contexto entra Valentina Allegra De Fountaine, uma política enigmática, perigosa e ambiciosa dentro do governo dos EUA, que se aproveita do fracasso do Presidente anterior e que está na mira do então Congressista Buck Barnes, o Soldado Invernal

Conheça o grupo denominado Thunderbolts*. Um grupo de anti-vilões recrutados para agirem diante de situações controvérsias. Praticamente, sob os comandos de Valentina Allegra De Fountaine [Julia Louis-Dreyfus], Yelena Belova/Viúva Negra [Florence Pugh]; Alexei Shostakov/Guardião Vermelho [David Harbour]; John Walker/Agente Americano [Wyatt Russell]; Fantasma [Hannah John-Kramer] e a Treinadora [Olga Kurylenko] andam realizando os trabalhos obscuros até que Val decide dar fim em todos eles. É aí que a narrativa do filme começa: com Val tentando colocar um ponto final nesta equipe que ela controlou por um tempo. Outro ponto de partida é que a personagem de Dreyfus se aproveita do fracasso do novo Capitão América ao se aliar a um Presidente que se transformou num monstro grande e vermelho. Sebastian Stan retorna como Buck Barnes/Soldado Invernal; Lewis Pullman é Bob/Sentinela. 


Quase o fim... 

É interessante a forma que a direção de Jake Schreier já começa com muita ação, confusão e uma sintonia perfeita entre personagens. Pugh já surge liderando o protagonismo da história que está prestes a ser contada. Sua posição do alto do prédio em que se joga sem, aparentemente nada a prendendo surge como um salto para o escuro e triste fim. Isso já se torna um grande spoiler para o que a história irá se revelar para nós. Contudo, se tem uma coisa que marca a estreia de Thunderbolts* é que nada é capaz de nos garantir para onde que a história irá. Somos surpreendidos a todo instante. O roteiro é muito bem construído, fechadinho, bem amarrado em seus diálogos. Schreier também consegue concentrar o tempo de tela necessário para cada personagem, o que nos permite conhecer e relembrar de onde eles vieram o que os levou até aqui. 

A relação entre Yelena e o pai, Alexei é sincera. De um lado, uma filha que não consegue superar o luto pela perda da irmã e não vence a dor e a tristeza que a consomem. Seu salto do alto do prédio é quase que um pedido de socorro pelo o tempo em que ela está sofrendo. Do outro, Alexei surge como um trabalhador fracassado, sem perspectivas de futuro e com um sonho destruído em se tornar um herói de respeito, uma figura pública mundialmente reconhecida, ou seja, alguém que teria um crédito de popularidade e relevância social. O que o filme não se preocupa em nos preparar é que estamos prestes a conhecer uma história que irá nos enfrentar, uma história que vai nos fazer pensar e, até chorar diante das dores e as dificuldades em superar os desafios que a vida nos impõe. 

A morte da Treinadora logo no primeiro combate do filme é chocante. A atriz Kurylenko que entrou no MCU junto de Pugh e Harbour no filme solo da Viúva Negra se despede de sua personagem de forma repentina, não no sentido de que teria algo a mais pra contar, mas no sentido surpreso da própria narrativa do time de desajustados. Entre linhas, o roteiro tenta nos mostrar que a relevância que Val dá a estas pessoas é tão infame que descarta-los de forma definitiva não seria algo custoso para ela. Nesse meio tempo conhecemos Bob, o personagem de Pullman e sua estreia no MCU. Pullman está ótimo em sua capa. Um homem carismático, meio romântico até, mas disposto a ajudar e a apagar a existência de todo o planeta. 


O vácuo 

É aí que entra Sentinela! Um ser poderoso que não sabemos de onde vem, o que ele é, se é humano ou um mutante e que dá um novo ritmo à trama. O filme também não se preocupa tanto em dar endosso teórico sobre o Sentinela e nem se preocupa em classifica-lo como um super-herói. Assim que o personagem surge nas telas assistimos a um ser que parece ter mais poder e força que todos os heróis juntos. Valentina, é claro, se surpreende com tal descoberta, descobre o que foi o Projeto Sentinela e decide, inequivocamente controla-lo. Ela faz Bob despertar seu poder, contudo, junto disso, ele desperta uma grande ameaça que nenhum Vingador será capaz de destruir. 

É aqui que somos apresentados ao vácuo, o anti-poder de Sentinela. O lado sombrio do personagem é capaz de dizimar toda a humanidade, levando as pessoas para um profundo e sombrio esgotamento, onde tudo vira tristeza, dor e depressão. Do nada, a trama de Thunderbolts* nos leva a um contexto tão humano que nos faz repensar sobre os sofrimentos que passamos. Entramos nas salas de cinema esperando um filme de super-heróis e saímos tendo recebido um filme sobre tristeza e depressão, e o melhor, como superá-la. Mais uma vez, conta muito o protagonismo de Pugh, que, aliás, se destaca positivamente, quando sua personagem decide abraçar a dor, quando não vê mais saída e nem esperança para seguir em frente. 

É no vazio que a dor se manifesta, também é no vazio que podemos encontrar a nossa maior força. Bob, ao ser abraçado pelos recém amigos consegue se libertar do vácuo e recupera sua dignidade novamente. Ele afasta de si a dor e escolhe viver bem e ao lado dos que se arriscaram para salva-lo. O filme nos surpreende em todos os sentidos e de forma positiva. Thunderbolts* apresenta um caráter introdutório, apesar de Capitão América: Admirável Mundo Novo ser o ponto inicial desta nova Fase, o time de desajustados encontra equilíbrio em meio ao caos do filme e ao caos do mundo real que a indústria Marvel se encontra. Tanto no filme quanto do lado de cá das telonas, vivemos um tempo em que um time de desajustados precisa encontrar o equilíbrio para que o cinema volte a ter o seu momento de glória.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

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