13 Jul
13Jul

“Superman é um sopro de esperança com dimensão extremamente humana ao Homem de Aço”, disse o IGN; “Para este Superman, a gentileza é seu mantra”, escreveu Hammond para o Deadline; o THR relatou que “trata-se de uma aventura de ação muito parecida com as HQs, mas com um caloroso coração humano”. O OmeleteTV escreveu que “este Superman é mais interessado pelo seu lado humano” e, o Entre Migas, sabiamente afirmou que o Superman, mais que um super-herói, ele é um amigo próximo das pessoas”. Todas estas afirmações fazem coro à grande aceitação do público pelo reboot de um dos heróis que marcam a Trindade da DC Comics. Muito bem escalado, o ator David Coresnwet, desde a primeira encarnação nas telonas por Richard Donner em 1978, torna-se o quarto ator a encarnar o herói nas telonas – isso sem contar os atores nas séries de TV. 

Junto de Corenswet como Clark Kent/Superman, o elenco traz Rachel Brosnahan como a jornalista Lois Lane, do famoso Planeta Diário e de Nicholas Hoult como um impecável Lex Luthor. Parte de uma jornada já em curso, vemos, de imediato, um super-herói experimentando algo inédito em sua vida: a derrota. Uma introdução – a lá Star Wars –nos coloca em sintonia com um passado de guerra em que, na tentativa de impedir um ataque de fronteira, o Superman é derrotado pelo Martelo da Borávia. O elenco ainda apresenta Guy Gardner, o Lanterna Verde [Nathan Fillion]; o Senhor Incrível [Edi Gathegi]; a Mulher-Gavião [Isabela Merced] e o Metamorfo [Anthony Carrigan]. O que assistimos na tela não é nenhuma novidade e nem um novo ponto de vista de um personagem que sobrevive há décadas, mas é um cinema feito com coração, com alma, cores e bom gosto. 


Clark Kent/Superman e Krypto 

A identidade secreta Clark Kent, desta vez deixa de ser um mistério maior. Kent e o Superman se confundem e se misturam numa jornada regada a amor e bom humor. Sua relação com Lois é tímida, porém muito eficaz. Vale lembrar que James Gunn, quem comanda o projeto, teve coragem o bastante para colocar na narrativa as características de um Superman que é imigrante, torna-se prisioneiro do Estado e vive e caminha em território estadunidense, livremente, sem observar fronteiras e geografia. Sem estar submetido a leis e tratados governamentais. Além de lutar pela sobrevivência da humanidade, inclusive de uma nação – a fictícia Borávia, por exemplo – que é chefiada pela política EUA. A narrativa coloca os termos políticos no centro da discussão, algo que será bem mais contundente quando o Luthor de Hoult surgir muito mais como um político perigoso, corrupto e manipulador do que aquele Lex Luthor taxado de maluco e com motivações simplesmente ambiciosas e sem fundamento. 

Ao conhecermos um Superman que é mais arredio quando o assunto é relacionar-se com a sociedade que o cerca, percebemos que Corenswet confere ao personagem uma característica sutil que é a de um “ser humano qualquer”. O fato de ser um alienígena e ter uma Fortaleza longe de onde vive e se relaciona acaba não sendo um peso para a narrativa, o que nos deixa ainda mais intrigados com a trama central de todo o filme. Sua presença junto ao corpo jornalístico da equipe do Planeta Diário também é serena e sem grandes alardes. Já não é mais segredo a sua identidade para Lois Lane e ela não mede esforços nenhum para tratar Clark como um ser humano comum. Como boa jornalista, ela é fria e calculista na medida certa, sobretudo quando precisa exercer, com ética, sua profissão. 

Alguns acharam um pouco confuso a existência do Super Cão Krypto na trama. Preferimos vê-lo como um alívio cômico diante de uma narrativa bem sufocante e pesada. Lidar com tramas políticas e que envolvem corrupção, ganância, ódio e um grande sentimento de inveja do vilão, não é uma tarefa fácil. Nada melhor que um Krypto dentro desta grande jornada para nos arrancar algumas risadas. E, claro, Gunn faz o personagem de quatro patas ter uma grande relevância na cena pós-créditos. Ainda não temos esta informação, mas o título Liga da Justiça ainda não se tornou realidade nessas duas horas de filme. A piada encabeçada pelo Lanterna Verde e que irrita seus outros dois amigos heróis prevaleceu até as cenas finais do filme, mas, como sabemos, as HQs indicam um futuro promissor aí. Vamos ter que aguardar um pouco mais... 


Lex Luthor e Lois Lane

Chegamos ao coração de toda a narrativa: a ameaça. Uma arma perigosa e que o Luthor de Hoult soube dominar muito bem foi a manipulação e a mentira. Usar as fake News, as táticas de difamação, os chats bots e toda e qualquer ferramenta para transmitir ao mundo um Superman falso e contraditório é uma jogada de mestre. Luthor consegue nos convencer de que na política, na economia, e nas relações de poder entre uma nação é outra é sempre assim: um querendo enganar, manipular, roubar e até mesmo, aniquilar o outro. A disputa bélica por território entre  Borávia e Jahanpur foi tão bem construída que fez da trama principal um grande diamante para que todo o filme funcionasse. James Gunn, ao se valer dos embates sócio-políticos e explorar as ambições humanas de quem controla o poder no nosso mundo real, ele atualiza o discurso de uma política que precisa estar a serviço da sociedade e do lado da frágil humanidade. E nunca o contrário. 

Usar Luthor para atualizar este discurso nos ajuda a nomear quem são os Luthor’s de hoje – cof cof Elon Musk – que fazem de grandes líderes mundiais verdadeiros marionetes nas mãos de quem pode usufruir e corromper o poder a benefício próprio. Aqui, entra o papel de um jornalismo ético e verdadeiro. Temos, talvez, a segundo melhor Lois Lane já vista nas telas: Brosnahan nos entrega uma personagem segura e confiante do que faz e de qual é o seu verdadeiro papel diante de uma guerra que ameaça a existência da humanidade. Os atos finais nos colocam diante de duas batalhas: uma entre Superman e as máquinas de Luthor e outra entre a equipe editorial do Planeta Diário contra as falcatruas de Lex Luthor e de toda a sua artimanha para governar o mundo a seu bel prazer. 

Colorido, bastante próximo das HQs, positivamente nostálgico e de altas expectativas. O filme é muito bom. Como afirmamos, não é inovador, não traz uma história nova. Tudo o que assistimos, já sabemos de cor, contudo, é uma jornada recontada com alegria vibrante e narrativa atualizada. A inveja nos descentraliza, deixa-nos vulnerável e nos faz perder o foco. É uma doença, um vírus e nos faz perder a razão. É assim que Luthor é desmantelado. É assim que Superman consegue recuperar seu prestígio diante da humanidade: ele a escolhe porque sentiu na pele o que é perder, o que é ser derrotado. E, todos os dias, nós, os humanos somos vítimas o tempo todo de tudo isso. Luthor não conseguiu compreender isso.





Por Dione Afonso  |  Jornalista

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