Já faz algum tempo que a indústria hollywoodiana vem sofrendo com o desgaste e a defasagem do gênero de filmes de super-heróis e dos blockbusters. Mesmo inovando em fotografia, visuais, elementos originais, parece que filmes de super-herói não conseguem mais apresentar algo inovador para um público cada vez mais exigente e a cada dia com mais opções de escolha. Estamos, atualmente, diante de dois ícones que estão lutando para recuperar seu espaço prodigioso. Lançados no mesmo mês, primeiro veio James Gunn reapresentando Superman, interpretado por David Coresnwet. Seu filme agradou pelas cores, originalidade e elenco primoroso. Depois, o cineasta Matt Shakman, já conhecido por seu trabalho em WandaVision, abrilhantou as salas de cinema com Quarteto Fantástico: primeiros passos. Shakman foi mais ousado quando decidiu apresentar a família Marvel num contexto retrofuturista e com uma nova perspectiva de leitura.
O “novo quarteto”, magnificamente interpretado por Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn e por Ebon Moss-Bachrach nos oferece uma nova perspectiva de leitura de um time de super-heróis que, além de amigos, são família. Galactus ganha vida numa proporção sobre-humana pela interpretação de Ralph Ineson. A atriz Julia Garner nos presenteia com uma versão da Surfista Prateada e ainda temos um vislumbre do Toupeira, interpretado por Paul Walter Hauser. Há muitas semelhanças entre o Superman de Gunn com o Quarteto de Shakman: ambos muito bem fotógrafos, bastante coloridos, com diálogos curtos, diretos e com grandes lições sobre humanidade, sacríficio, fraqueza e luta pelo bem comum. Entre as diferenças, talvez destacaríamos a intenção que cada estúdio, e cada diretor decidiu colocar em suas obras.
Não que esta narrativa valorativa não estivesse presente em obras anteriores, aqui, a esperança parece ganhar maior protagonismo nas relações e decisões de cada cineasta. Os tons de azuis presentes em ambas as obras deixam isso muito bem claro. Mas, parando os paralelos por aqui, pois não é muito justo comparar obras de estúdios diferentes por questões de identidade, a Família Marvel é movida única e primeiramente pela esperança. E a esperança é em dias melhores, família feliz e numerosa, amores verdadeiros e de um mundo seguro para o seu planeta. A esperança é como o motor propulsor para que a história encontre seu ponto de equilíbrio.
Vamos começar, por exemplo do Coisa. Muito bem interpretado por Moss-Bachrach, o personagem é tímido, retraído, mas sempre de bom humor. Foi magnífico, Shakman conceder a um ser de pedra uma sensibilidade que fosse capaz de perceber nas entrelinhas coisas que um humano comum do dia a dia não foi capaz de perceber. O Coisa soube da gravidez de Storm sem antes perguntar. Apenas de olhar para ela, um ser vivo de pedra, rígido e com movimentos pouco sensíveis, foi capaz de perceber a maior graça e o maior presente que a humanidade é capaz de ofertar a ela. Depois do Coisa, olhamos para o Tocha Humana de Quinn. Dest vez, o personagem é mais inteligente, concentrado e equilibrado em relação aos seus interesses. Shakman não o tirado rol dos jovens mulherengos, mas também não deixa que esta característica determine sua personalidade. E agora ao núcleo familiar entre Reed e Sue. Enquanto Pascal nos oferece um Reed ambicioso e com uma preocupação extrema ao cuidado e proteção, Kirby é uma Sue protetora, meiga, delicada e poderosa.
Um novo ponto de vista nos é dado quando o filme decide nos colocar sob a liderança de Sue e não de Reed. Desta vez não é o Sr. Fantástico que dita as regras do que deve ser feito e nem será ele que comandará a equipe. No começo, quando Reed começa a dar ordens, percebemos que o filme irá nos apresentar nova perspectiva que fica muito bem clara com o nascimento do novo integrante da família Storm. O discurso de uma mãe protetora, mas que ao mesmo tempo é a defensora de todo um planeta é o ponto de virada de toda uma narrativa que se concentra não no sacrifício de uns pela vida de outros, mas pela luta justa em que todos têm o direito de permanecer vivos.
Talvez aqui resida o grande ponto do desgaste narrativo de filmes de herói. Nada nunca muda desde que o gênero existe. Trata-se sempre de uma ameaça global que é comandada por um ser que foge das proporções humanas e das condições naturais e que é enfrentado por um time de super-heróis que vivem na Terra, mas que possuem condições poderosas capazes de enfrentar um mal dessa magnitude. Não foi diferente com Superman de 2025 e nem é diferente aqui com Quarteto Fantástico. Por isso, vale ressaltar a pergunta que dirigimos no título deste ensaio: mesmo trazendo essas maravilhas que Gunn e Shakman nos trouxe com essas duas obras recentes, é o suficiente para tirar o gênero de sua defasagem?
Ambos os filmes são bons. Bem filmados. Elenco de primeira. Fotografia impecável. A história é a mesma, a narrativa segue os padrões e a fórmula Marvel continua ali. Quanto a isso, nenhuma novidade será vista para nos tirar de nossa comodidade e fazer-nos saltar de vibração. Quarteto Fantástico; Primeiros Passos inaugura a Fase 6 da Marvel e é seguido pela série animação Olhos de Wakanda. A nova fase promete apresentar novas ameaças uma jornada mais intergaláctica e menos terrena. Ressaltamos também que, após o multiverso ter sido apresentado, diversos mundos coabitam a este que conhecemos há anos. A Família Marvel está num universo paralelo, para vencer Galactus, o gigante é transportado para outra dimensão, para onde? Ainda não sabemos. E Victor Von Donn surge na pele de Robert Downey Jr. O que será que virá?
Por Dione Afonso | Jornalista