11 Jun
11Jun

Em 2023, o terror Fale Comigo foi aclamado o melhor longa do gênero naquele ano e, desde então, difícil de ser superado. Os créditos do sucesso cabem aos gêmeos Danny Philippou e Michael Philippou, administradores do Canal do Youtube RackaRacka que, em janeiro daquele ano continha mais de 6 milhões de assinantes. Os irmãos Philippou são criativos, dinâmicos e muito inteligentes quando o tema é ligar uma câmera e se colocarem a postos diante de qualquer história que desejam contar. Como bons filmakers, os irmãos conquistam o público mantendo originalidade em pequenos takes que eles produzem e lançam no Canal. Nascidos na Austrália, os cineastas galgam a carreira fílmica e são o melhor exemplo de quem faz algo muito mais pela profissão e dinheiro: fazem porque amam e o que amam é feito com verdade e leveza. 

Dois anos após o grande sucesso os Philippou’s entregam o segundo longa-metragem para o público amante de histórias de terror. Em Faça Ela Voltar, acompanhamos Laura [Sally Hawkins], uma ex-assistente social que decidiu tornar-se mãe adotiva. Laura acolhe em sua casa a pequena Piper [Sora Wong] e seu irmão Andy [Billy Barratt] após perderem o pai. Na nova casa os irmãos começam a perceber que alguns costumes estranhos rodeiam a personalidade de Laura até que Andy testemunha Oliver [Jonah Wren Phillips], a outra filha adotiva, se cortar ao tentar mastigar uma faca. Toda a história rodeia o habitat – nada natural – de Laura: sua casa, o quintal que mantém intacto um círculo em tinta branca, e um anexo à parte da casa. 


Assinaturas cinematográficas 

Fala Ela Voltar é diferente da primeira história para as telonas, mas a nova obra consegue fixar alguns elementos que fixam a originalidade, a assinatura de quem comanda a história. Quando assistimos os takes dos Philippou’s no Canal do Youtube, encontramos os sinais discursivos que estão presentes nos dois filmes dos diretores: câmera sempre em plano detalhe, fechado e conferindo identidade à personagem cuja história a ela pertence; cores mais saturadas, sempre puxadas para os tons escuros, frios e opacos; foco em rostos, olhares, sorrisos; cenas do ar, o que é necessário para dar credibilidade ao elemento sobrenatural. A direção dos irmãos faze a história se sobrecarregar de elementos que escapam à consciência humana e ao que foge do que compreendemos. O elemento sobrenatural, desta vez, encontra um pé na realidade mais firme que imaginamos. 

A narrativa tem uma “arma secreta”: o luto. Desta vez o luto não entra na história como uma fraca metáfora, mas ele é a força motriz de toda a história. A protagonista Laura não consegue superar a perda da filha e, portanto, entrega-se a um ritual horripilante que “garante” a volta da filha morta em outro corpo. Para isso, Laura usa do sistema de adoção para garantir que consiga uma adolescente sem levantar suspeitas. A presença dos jovens atores Wong e Barratt é excelente. Dois adolescentes que entregam uma atuação muito bem-feita e verdadeira. Enquanto Wong entrega uma Piper triste, tentando esquecer do pai e superar o luto; Barratt é um Andy prestes a completar 18 anos e só pensa em dar um passo definitivo abandonando o passado. O luto que ele não consegue superar o corrói por dentro, ao contrário de Laura, que externaliza a dor confiando num ritual satânico para recuperar o que se perdeu. 

Por fim, temos de falar do ritmo do filme: e isso é outra assinatura dos irmãos cineastas. Algo que chama a atenção no trabalho de 2023 e que desta vez é presente ainda mais contundente. Outra marca registrada do cinema dos Philippou’s é o desfecho das histórias: ambas terminam com um acidente trágico, no entanto, aqui há um gesto esperançoso ao conseguir recuperar a primeira criança que Laura adotou. A experiência final nos garante um longa que não consegue ser visto por seres com estômago fraco ou de mente perturbada. Acreditem: pode perturbar ainda mais.




Por Dione Afonso  |  Jornalista

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.