06 Sep
06Sep

Quando nos chegou a primeira temporada da série com Jenna Ortega estrelando a protagonista, ficou claro para nós que aquela família nada tradicional e que se tornou um ícone da cultura pop tinha muito a nos ensinar. Wandinha conseguiu apresentar para uma nova geração de telespectadores uma releitura do que significa ser Família Addams. O primeiro ano nos trouxe de volta aquele vigor de uma produção bem-feita e que respeita o passado, abraçando o seu futuro com ousadia e criatividade. Ortega nos deu uma Wandinha fiel ao que ela representa. Sem cor, sem vida, sem remorso e com aquele mórbido senso de generosidade fria e calculista. 

A segunda parte, ou seja, os quatro últimos episódios da segunda temporada resolveram agilizar o processo lento e confuso da primeira parte do segundo ano da série. Tim Burton, que é a cabeça por trás desta engenhosidade retoma o conceito original, ou seja, aquela “fórmula Addams” que sentimos falta na primeira parte e a reconecta aqui apresentando um pouco mais da morbidez e dos tons escuros e noturnos. Por mais que tenha ficado claro que o foco da temporada foi a amizade entre Enid [Emma Myers] e Wandinha, foi muito promissor o núcleo familiar Addams que se consolidou entre as três gerações de mulheres: Wandinha, Mortícia [Catherine Zeta-Jones] e sua mãe [Joanna Lumley]. 


As mulheres Addams 

Nesta nova leva de episódios, a avó Addams ganha mais tempo de tela e um núcleo narrativo muito importante para que a trama principal pudesse ganhar um reforço extra para acontecer. Na primeira parte deste ano, a relação entre Mortícia e Wandinha ficou um pouco enfadonha e ancorada mais numa birra de adolescente do que num trauma mais profundo e digno de nossa atenção. Quando a produção decide trocar os motivos da narrativa e transferir da birra para a avó Addams, sentimos que a narrativa ganhou novo impulso. Isso, sem contar com o brilhantismo de atuação que Lumley nos presenteou. Com ela, a avó Addams representou aquela personagem ainda mais fria e sem sentimentalismos familiares e ações relacionais. Para a avó Addams, sua desconexão com a própria filha serviu de motivo para importunar Mortícia com a sua fraca conexão com Wandinha. 

Na mesma proporção, Zeta-Jones é uma Mortícia Addams magistral, grande, imponente, poderosa, fria, mas amorosa e maternal. Esta qualificação “maternal”, é algo incomum, pois foge das características de sua própria mãe, a avó de Wandinha. Ainda temos a presença – ou não – de Ophelia Trump, a irmã mais nova de Mortícia e que na série, foi introduzida como uma personagem diagnosticada com problemas psíquicos. Mantendo ainda o segredo sobre sua identidade e que atriz irá dar vida a ela, Wandinha termina a temporada com consciência segura e clara de onde ela precisa ir para que sua jornada continue ganhando sentido e relevância. 

Ortega parece que consegue recuperar sua essência como uma Addams forte, poderosa e cheia de poder. Mesmo enfrentando os problemas de sua não conexão familiar e da ausência de suas visões, Wandinha é a personagem certa para continuarmos restaurando, atualizando e revigorando a grande Família Addams para a TV e, quiçá, pros cinemas. Ortega contracena com Lady Gaga, que surgiu como a Rosaline Rotwood, uma personagem desconhecida por nós e que, na trama, ganhou um destaque pequeno e simples, mais uma “escada” para que a trama funcionasse. Mesmo assim, os minutos em que as duas se encararam foi um show de atuação. 


A amizade com uma Addams 

Fica claro, enfim, que o quarteto de mulheres – as 3 Addams mais Enid – é uma força narrativa feroz para toda a trama. Nós conseguimos aprender um pouco mais sobre toda a família com esta segunda temporada. O próprio Feioso [Isaac Ordonez] teve seu destaque e muito merecido, aliás. A fala de sua mãe “o Feioso cresceu muito neste ano”, dentro da narrativa representa muito mais que um aceno à sua estatura, mas, cresceu em relevância dentro da história. Sua relação com o “homem-zumbi” [Owen Painter] e sua constante busca fracassada por fazer amigos colocou este membro Addams numa perspectiva que nos fez importarmo-nos com ele. 

Por fim, Wandinha, ao lado do Tio Chico [Fred Armisen] embarcarão numa aventura incrível. Wandinha precisa recuperar a humanidade de sua amiga – espera aí, amiga? Uma Addams se importando com uma amiga? – Enid. Pois é! Talvez a essência de ser um Addams não esteja apenas na esquisitice, na frieza e no não se importar com a humanidade, mas sim, de reconhecer que até mesmo o pouco de humanidade que habita em cada um de nós pode nos fazer embarcar numa jornada que nunca imaginaríamos ir: resgatar alguém com quem nós nos importamos. Agora é aguardar a terceira temporada e ver onde que Tio Chico e Wandinha irão nos levar.




Por Dione Afonso  |  Jornalista


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