12 Dec
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Depois do famigerado desastre que foi Glass Onion: Um Mistério Knives Out, Rian Johnson, amado por uns, odiado por outros tenta recuperar o fôlego narrativo da franquia Entre Facas e Segredos. O primeiro filme chegou em 2019 com certa timidez, sem muita divulgação, mas que acabou ganhando o público. O primeiro filme trouxe uma áurea a lá Agatha Christie, e o ritmo de mistério e suspense nos conquistou. Já a sequência, que chegou três anos depois cresce em importância, mas perde em conteúdo narrativo. Infelizmente Glass Onion, apesar de sua dose exagerada de humor, elenco estrelar, o longa não conquista o público e faz das expectativas um mar de fracassos. 

Vivo ou Morto: um Mistério Knives Out chega, novamente num espaço de três anos depois de seu antecessor e repete a grandiosidade de elenco: Daniel Craig retorna como o detetive Benoit Blanc e o elenco conta com o brilhantismo de Cailee Spaeny; Andrew Scott; Mila Kunis; Jeremy Renner; Glenn Chose que divide o protagonismo ao lado de Josh O’Connor; Josh Brolin e muito mais. O palco do novo filme se concentra numa pacata cidade nova iorquina, profundamente manipulada por uma religião conservadora e especulativa e o mistério do famoso “quem matou” movimenta as mais de duas horas de filme. 


O mistério pelo mistério 

Benoit Blanc se vê encurralado entre o mal e a fé. Diferente do segundo filme, aqui os diálogos são mais bem elaborados, nada é corrido e o personagem de Craig sofre com algo que ele não compreende e que foge de sua crença. Aliar-se à fé e frequentar um Templo Sagrado não estão nos planos do personagem. Neste filme vemos um certo “fracasso” de quem não poderia errar ou deixar dúvidas. Contudo, Blanc também cresce como personagem, ele se veste de humanidade e de certa empatia ao preservar no ato final a ação “pecaminosa” da senhora Martha Delacroix, personagem de Glenn Chose. É interessante como que Benoit Blanc se veste de certa caridade, movido ou não pelo ambiente cristão em que estava. 

Todo o filme se ancora no brilhantismo da atuação de Josh, que dá vida ao padre Jud Duplenticy, que, sofre ao carregar um passado errôneo que o assombra e o põe no centro de uma trama que não desejava estar. O que merece elogios e nossa atenção nos três filmes desta franquia é a fotografia que é incrível. Rin Johnson, que comanda estas adaptações, consegue nos dizer sem precisar que seus personagens falem. Vivo ou Morto não tem medo de errar, e por isso, navega por caminhos desconhecidos, supersticiosos, milagrosos e até mesmo sobrenaturais e, por isso, conseguem acertar no ato final. A franquia está viva e pode continuar nos rendendo boas histórias. A obviedade da resolução do mistério que nos entristeceu no segundo filme, desta vez, Johnson corrige isto e nos entrega um ato final mais cativante. 

Por fim, há neste novo filme, uma crítica sociorreligiosa quando expõe líderes religiosos hipócritas, falsos e com mensagens que extorquem os seus fieis em busca de algum tipo de salvação ou de esperança. O monsenhor prometia uma certa salvação sobrenatural, impossível e que só contaria com algo manuseado e arquitetado por suas “mãos miraculosas”, o que, é claro, nunca aconteceu e nunca poderia acontecer. Josh O’Connor chega tentando ser a representação de um líder religioso disposto a corrigir as coisas, disposto a devolver à igreja a imagem de uma casa santa, de oração e lugar seguro para as preces e orações de quem dela se aproximar.

Para conferir um pouco mais sobre Glass Onion: Um Mistério Knives Out, ouça um dos episódios de nosso podcast, "O Raio Acertou", clicando aqui.


Por Dione Afonso  |  Jornalista


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