17 Jul
17Jul

Muitos ficaram decepcionados e até indignados quando foram acometidos com a notícia de que este segundo ano encerraria a adaptação em duas únicas temporadas. Contudo, Allan Heinberg, o Criador da série revelou em entrevista que não se trata de um cancelamento da obra, mas que, de fato, o material que ele tinha em mãos era o suficiente apenas para mais uma leva de novos episódios. “A série sempre foi exclusivamente focada na história de Sonho e, lá em 2022, quando olhamos para o conteúdo de Sonho que sobrava dos quadrinhos, sabíamos que tínhamos história o suficiente para apenas mais uma temporada”, disse. Infelizmente, mesmo com uma produção magistral, a série não ganhou o gosto do público e nem das premiações, nem mesmo na primeira temporada

Neste primeiro volume da segunda temporada, Sonho [Tom Sturridge] precisa lidar com o peso de suas escolhas do passado, além de conviver com relações familiares que custarão dele muito mais que possas imaginar. Os seus irmãos Perpétuos: Destino [Adrian Lester], Desejo [Mason Alexander Park], Delírio [Esme Creed-Miles], Desespero [Donna Preston], Destruição [Barry Sloane] e Morte [Kirby Howell-Baptiste] são convocados a uma audiência familiar que é notada pela ausência do perpétuo Destruição. Confrontado pela ardilosa Desejo, Sonho, mais uma vez, retorna ao inferno ter com Lúcifer [Gwendoline Christie] uma audiência, ao que é surpreendido por uma ardilosa armadilha. Jenna Coleman retorna como Johanna Constantine; Vivienne Acheampong como Lucienne; e Patton Oswalt é o corvo falante. 


Narrativas confusas e anacrônicas 

Mesmo mantendo a originalidade, boa produção, fotografia impecável de Will Baldy nestes episódios, o que perde interesse e admiração é a sua narrativa. Sonho não parece estar confortável na lista de coisas que precisa resolver, desde a reunião com os irmãos perpétuos até a sua jornada junto de seu filho passando por outra pelo inferno. Parece que a cronologia se confunde dando a sensação de certo anacronismo. Não sabemos o que se segue, nem o que vem depois do que. Tudo começa com Sonho reconstruindo seu palácio enquanto Matthew, o corvo falante e sua governanta Lucienne admiram seu senhor enquanto cria. Logo depois em que é convocado por Destino para o encontro dos perpétuos Sonho é instigado por Desejo sobre os erros de seu passado ao que o leva ao inferno para corrigir uma injustiça que causou com um grande amor do passado: a Rainha Nada [Deborah Oyelade]. 

Esta jornada é atropelada por uma infeliz armadilha: Lúcifer abdica de seu poder de ser Senhor do Inferno e, depois de libertar todos os que ali estavam condenados e também os demônios que o serviam, com o Reino do Inferno vazio, num gesto maldoso de vingança ele entrega as chaves para Sonho, tornando-o Senhor dos Sonhos e Senhor do Inferno. Vale destacar aqui a atuação magnânima de Gwendoline Christie. A cena em que ela se abaixa para que Sonho corte suas asas é a mais poderosa deste primeiro volume da segunda temporada. Voltando à confusa narrativa: a jornada com a Rainha Nada fica estática, agora, Sonho precisa lidar com a artimanha que Lúcifer lhe causou, mas, enquanto isso, uma visita inesperada: Delírio o visita com uma outra proposta. 

Quando Delírio bate à porta de Sonho, os episódios nos colocam numa terceira jornada: a busca pelo irmão Destruição, que desapareceu de seu Reino. Portanto, temos, o Rei dos Sonhos, precisando decidir quem será o novo Senhor do Inferno; a Rainha Nada para ser libertada e devolvida à sua jornada e Delírio e Sonho que irão sair em busca do perpétuo que desapareceu. As coisas se resolvem. Com atropelos e alguns desastres narrativos, mas acontecem. Igualmente a primeira temporada, nós continuamos tendo bons diálogos. Ensinamento e frases de efeito muito bem colocados, mas, infelizmente, o roteiro ficou um pouco a desejar. 


A jornada íntima e pessoal 

Entre tantos desencontros, o núcleo deste primeiro volume da última temporada se concentrou numa narrativa mais íntima. Conhecemos o filho e a família que um dia Sonho teve. A sua jornada com seu filho Orfeu [Ruairi O’Connor] é muito profunda. Tanto o filho, quanto o pai vacilam no amor e sentem dificuldade para superarem a perda. Enquanto o filho renuncia à mortalidade para ir em busca da recém-esposa nos domínios imortais, o pai Sonho precisa ir a outros domínios para trazer de volta alguém que ele condenou por puro egoísmo. A mensagem que isso nos apresenta é que, não importa até onde somos capazes de ultrapassar nossos limites humanos, mas sim, até em que ponto estamos dispostos em renunciar àquilo que nos humaniza. 

Sandman é sobre isso: a luta entre manter nossa humanidade ou entregar-se às tentações que trazem promessas vazias, mas muito convincentes. Um lema dos perpétuos “não derramamos sangue da família” é quebrado por Sonho e, provavelmente isso poderá trazer alguma consequência nos episódios finais que estão por vir.




Por Dione Afonso  |  Jornalista  

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.