Falta de consistência nunca foi um problema para a série protagonizada por Alan Ritchson. Se, nos dois primeiros anos – 2022 e 2023 – cada temporada nos ambientou em diversos casos e aventuras envolvendo o policial aposentado Reacher e, necessariamente ou não, aquilo iria, ou não se concatenar no final. Agora, a terceira temporada resolveu provocar algo mais grandioso: colocar Reacher num único caso que permeou todos os episódios, mantendo uma firme e única narrativa, dando ainda mais relevância, qualidade de enredo e roteiro altamente afiado e honesto. Reacher consegue nos surpreender com sua lealdade de diálogo e seus bons argumentos para que cada ação possa acontecer.
Neste terceiro ano o que muda com um pouco mais de visibilidade é a presença dos coadjuvantes de Jack Reacher. Depois que se derivado foi anunciado, desta vez, Frances Neagley [Maria Sten] apareceu praticamente no final da temporada, mas, mesmo assim, sua participação foi grandiosa. Mas o elenco ainda foi engrandecido com Olivier Ritchters, que, absurdamente consegue ser mais parrudo que Ritchson; Brian Tee; Anthony Michael Hall; a investigadora Susan Duffy, interpretada por Sonya Cassiy; um policial que não empolga muito [Guillermo Montesinos]; Johnny Berchtold e muito mais. Na nova leva de episódios, o centro é a casa do mafioso Zachary Beck [Hall], um estranho comerciante de tapetes que, parece contrabandear algo muito maior e mais perigoso.
O ponto positivo é concedido para Nick Santora, que comanda esta nova temporada. Santora consegue concentrar toda a energia do novo ano para Reacher e sua capacidade de roubar a cena sempre quando aparece. Contudo, um ponto negativo acaba se sobressaindo, e, desta vez, com muita veemência: os coadjuvantes perdem sua relevância e força de atuação e presença. A família Beck, por exemplo, o pai e o filho [Berchtold] acabam tornando-se dois imbecis dentro da trama. Há um momento grandioso de redenção para o senhor Beck no último episódio, contudo, não ganha o crédito suficiente para se tornar um ato de heroísmo dentro da grande jornada. Depois de Ritchson, Cassidy é quem ganha mais tempo de tela apresentando uma mulher e imponente como a investigadora Duffy, que, infelizmente acaba caindo nas artimanhas sexistas do protagonista.
A atuação de Sonya Cassidy tem um crescente até que favorável à sua presença dentro da trama. Contudo, mais uma vez o que percebemos é que sua personagem serve simplesmente de alavanca para que a história de Jack Reacher possa acontecer grandiosa e com todas as explicações necessárias. Duffy não é uma personagem fraca ou ruim, mas a opção que Santora tomou a fez ficar diminuta dentro de uma grande história que poderia oferecer muito mais a ela. Para exemplificar, basta observarmos como que a personagem veterana Neagley entrou, participou e saiu da trama sem sofrer consequências. Sten apareceu, cumpriu com seu papel. Contracenou magnificamente e não deixou sua personagem sair da história diminuída e nem mesmo com potencial desacreditado.
A terceira temporada de Reacher engrandece – como se fosse preciso – ainda mais as potencialidades não só de presença do personagem, mas de atuação do ator. Como afirmamos, isso não seria necessário, mas o fato de ter acontecido assim, elevou ainda mais nossas expectativas para um quarto ano que possa nos surpreender ainda mais. Nesta temporada, Reacher teve início, meio e fim. Um primeiro ato que usou três episódios para contextualizar, sintonizar e jogar os personagens em seus devidos lugares. Mais um bloco de episódios para desenvolver as tramas e estabelecer conflitos perigosos e um ato final em grande estilo.
O carisma é essencial. Levantamos esta pauta não para nos direcionar unicamente aos artistas que entram em cena. Claro, na maioria das vezes o papel deles é fundamental. Neste caso, Alan Ritchson desfila com seu carisma naquele jeito truculento, brucutu e desproporcional. Não teve um que não suspirou fundo quando o viu de costas, sem roupa, à noite, no meio do asfalto e sem intenções sensuais nenhuma. Tudo por conta da missão que estava cumprindo. O mafioso interpretado por Hall, apesar de ser um personagem fraco e chato, também conseguiu nos colocar um pouco de tensão, sobretudo quando perde uma orelha para salvar o filho. E vamos falar de Oliver Richters, como o assustador gigante Paul van Hoven. Em cena, ele parecia ter duas vezes o tamanho de Ritchson. Ficamos aguardando ansiosos para o “quebra-quebra” entre os dois. Quem será que ganhou aquela luta, heim?
Assistam Reacher! É uma obra de arte. De fato, a adaptação que nos vem das páginas de Lee Child ainda abrilhanta os nossos olhos. Um outro ponto não muito legal foram os flashbacks para contar um pouco do passado do protagonista. Na nossa opinião foram desnecessários. Mas entendemos o motivo de querer mostrar uma ligação mais forte para contextualizar a vingança entre Reacher e Quinn [Tee]. A temporada já tinha elemento forte o suficiente para garantir que a trama ganharia nossa atenção até o final. E ganhou! Só o tamanho de Alan Ritchson – tanto de atuação, quanto de físico – são o bastante para garantir que todos nós vamos parar e dar atenção às histórias que ele irá nos contar.
Por Dione Afonso | Jornalista