01 Nov
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A nova produção escrita e dirigida por Steven Knight foi criada pela escritora Ivana Lowell que teve como ideia inicial o patriarca da família Guinness. A temporada de estreia se abre com a morte e procissão fúnebre daquele que era um grande símbolo para a Irlanda, o dono das Cervejarias Guinness. Os episódios são movidos pelo legado deixado aos quatro filhos: Arthur Guinness, interpretado por Anthony Boyle, o mais velho que não quer nada com os negócios e que é secretamente homossexual; Benjamin Guinness (Fionn O’Shea), o segundo filho, que é repleto de vícios, especialmente o alcoolismo; Edward Guinness (Louis Partridge), o terceiro filho que, ao contrário de Arthur, deseja mais do que tudo continuar mergulhado nos negócios; e Anne Guinness (Emily Fairn), a única filha, já casada e a mais centrada deles, capaz de impor seu comando em relação aos irmãos. 

Para quem é fã de “Peaky Blinders”, também criada por Knight, vai ter um apreço por “House of Guinness”. A série se passa em Dublin, em 1868, logo após a morte de Sir Benjamin Guinness, o patriarca da dinastia cervejeira. É uma produção que encanta pela fotografia cinzenta, azul petrolado, preto e tons de cinza sobrecarregados sob um centro urbano que cheira a cerveja preta, trabalho industrial, ricos e pobres sempre se digladiando nas docas. O elenco é enriquecido por James Norton, que interpreta o capataz da família Guinness, Rafferty; os irmãos Patrick (Seamus O’Hara) e Ellen Cochrane (Niamh McCormack), que coordenam uma política revolucionária, populista e de protesto trabalhista entre os irlandeses. Também temos destaque a Jack Gleeson; Ann Skelly; Michael McElhatton e Jessica Reynolds. 


Entre uma cerveja e outra... 

O roteiro de Knight é cirúrgico em cada detalhe da trama. Tal narrativa também incorpora os dramas familiares, as dores trabalhistas e até onde pode chegar o poder, dinheiro, fama e riqueza. Entre uma cerveja e outra, vemos costurados conceitos como lealdade, desumanidade e justiça. Por exemplo, no começo a luta dos irmãos Patrick e Ellen até é justa e com senso de igualdade e humanidade, contudo, este caráter acaba se alterando com o desenrolar dos episódios. Ellen, que é a arquiteta de todo o jogo, entrega-se a Patrick Guinness, seu “inimigo” na política e nos interesses sociais. Patrick, mesmo casando-se com oura, porque o que importa é salvar a imagem da família e da empresa, admite sua paixão ardente com a plebeia Ellen. Já seu irmão, taxado como ignorante e incompetente, deixa no ar seu futuro na série. 

A família Guinness meio que perde seu protagonismo no desenrolar da trama, o que não é de todo ruim. Por um instante começamos a perder o interesse em Arthur, tentando sobreviver nos becos escuros onde deixa exalar sua homossexualidade enquanto sua esposa, por um acordo nada nupcial e com o consentimento de Arthur se deleita entre prazer e amor com o capataz Rafferty. Inclusive, é ele quem acaba roubando a cena em todos os episódios em que aparece, graças à atuação impecável, atraente, misteriosa e viril de James Norton. 

A jornada da filha Guinness também é cativante, mas perde força. Emily Fairn tem uma ótima atuação, mas sua personagem é frágil e obscura. Ao mesmo tempo em que ela, como uma Guinness deixa um enigma, o roteiro tenta dar a ela uma relevância ancorada na caridade. Anne Guinness empreende uma política pautada na caridade e na boa vontade. Ao instalar moradias para acolher os pobres e doentes, Anne até consegue se sustentar na primeira temporada. O legado da cerveja preta Guinness tenta sua expansão para fora da Europa, chegando às Américas, uma empreitada com um personagem desconhecido e que não se justifica: o bastardo Byron interpretado por Jack Gleeson. Um personagem que veio do nada, nada fez e só serviu para encher lacunas invisíveis. A primeira temporada sofre com algumas narrativas como essa que não se justificam e não se sustentam, mas deixa um ótimo último episódio para uma possível segunda temporada.




Por Dione Afonso |  Jornalista

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