A série A Roda do Tempo é considerada a maior obra de ficção dentro do universo literário. Os volumes de Robert Jordan – pseudônimo de James Oliver Rigney Jr. – são verdadeiros calhamaços, o que exige dos leitores coragem e determinação no exercício de leitura. A saga conta com 14 volumes, que foram lançados entre 1990 a 2013. Reúne diversas gerações de leitores, nesses 35 anos e recebeu uma primeira adaptação em série de TV desde 2021. A primeira temporada encantou o público com o protagonismo da atriz Rosamund Pike e a história de mulheres fortes e poderosas. A segunda temporada, que chegou em 2023 sofreu algumas baixas do público, por conta de sua jornada mais escorregadia e com pouca estruturação narrativa. Contudo, agora, a terceira leva de episódios recupera o fôlego e apresenta uma terceira temporada mais gloriosa e com muita história pra contar.
Nossa jornada continua seguindo as escolhas que o quarteto Rand al’Thor [Josha Stradowski]; Perrin Ayabara [Marcus Rutherford]; Matt Cauthon [Barney Harris] e Egwenw al’Vere [Madeleine Madden] tomam em seus caminhos. No segundo ano, mesmo sofrendo tropeços, cada um dos quatro ganhou uma narrativa mais coesa, desenvolvendo melhor suas personalidades. Reunidos no fim da temporada, o novo ano os traz de volta a um ciclo perigoso. Perrin retorna para Dois Rios, enquanto Rand al’Thor se consagra como o Dragão Renascido para um importante grupo que vive no deserto. A Aes Sedai Moraine [Pike] mantém sua liderança em segundo plano, vivencia experiências sobrenaturais inexplicáveis e sofre ao lidar com os Amaldiçoados. Zoe Robins; Daniel Henney; Kate Fleetwood; Ceara Coveney; Sophie Okonedo e muito mais completam o elenco.
Na temporada anterior conhecemos a Lanfear [Natasha O’Keefle]. Uma Amaldiçoada, o seja, guerreira das forças ocultas, leal a Ishamael. Nos livros, também são chamados de Abandonados, ou Renegados e Lanfear é uma das 13 deste grupo. Seres da escuridão, perigosos, poderosos e com sede de vingança, eles lutam – ou é o que parece – para que Ishamael possa retomar o seu poder. Na nova leva de episódios conseguimos ter um vislumbre maior de o que representam este grupo. Moghedien, a Aranha [Laia Costa], que, inicialmente se apresenta como uma jovem indefesa e de pouca inteligência, trama seus fios de maldade e magia negra e vai derrubando um a um. Eles catalisam o poder único e, na Era Antiga, lutaram contra o Dragão Renascido. Na Nova Era, parece-nos que o desejo é o de trazer o Novo Dragão – Rand al’Thor – para o lado das sombras. Eis todo o esforço de Moiraine: fazer com que a Torre Branca se alie a Rand para que a força do Dragão esteja do lado da Luz.
A missão, agora enfrenta um desafio maior com a morte de Siuan Sanche [Okonedo] e a ascensão ao poder de Elaida [uma Ajah Vermelha] ambiciosa, com sede de poder e que leva a política a ferro e fogo. Elaida [Shohreh Aghdashloo] arquiteta uma usurpação da força, destitui Sanche, condena-a à morte e a sacrifica no Salão Principal da torre. Determinada a “cortar o mal pela raiz”, Elaida é a representação de um poder corrupto e que não tremerá se tiver que derramar sangue para que a tradição política volte para os trilhos. Por outro lado, ao enfrentar uma situação de vida ou morte imposto por Liandrin [Fleetwood], Nynaeve al’Meara [Robins] destrava seu poder e revela-se uma poderosa catalisadora do Poder Único que poderá se tornar grande ameaça contra as forças do mal.
Em Dois Rios Perrin enfrenta outro exército das sombras, desta vez, com auxílio – e desconfiança – dos Mantos-Brancos. Depois que a Torre Branca caiu, logo no primeiro episódio e muitas foram assassinadas, Dois Rios acaba se tornando um refúgio, mas sem muita segurança. Trazer Perrin de volta à sua vila foi essencial para o personagem, para a narrativa e para a relevância da história. Enquanto ele está em Dois Rios, Matt está com Nynaeve e Elayne [Coveney] numa missão secreta pela Torre Branca, atrás de Liandrin e Egwene e Rand seguem suas jornadas na descoberta do futuro e do que os poderes de cada um poderão representar.
A aparição de Moghedien – a Amaldiçoada Aranha – ajudou para que a história ganhasse novo impulso, no que diz respeito às forças das Sombras. Vimos, nestes episódios que o mal estava trabalhando de forma silenciosa e com grandes pretensões. Não sabemos até onde Lanfear irá nos conduzir, contudo, quando sai da temporada ferida gravemente por Moiraine, seu futuro poderá não ser muito prodigioso. Outros Amaldiçoados estão se movimentando em segundo plano. Agora, nossa atenção volta à Rainha, mãe de Elayne, que corre grande risco de perder seu reinado para o Amaldiçoado que a engana. Lord Gaebril é o Amaldiçoado Rahvin [Nuno Lopes], que, liado a Lanfear, tentarão derrubar Rand al’Thor. Grande apreensão também nos toma conta partindo do que vai acontecer agora na Torre Branca. Elaida conquistou o trono de forma corrupta e ameaça o bem suceder da missão de Moiraine.
Por fim, o novo ano foi poderoso e eficaz. Os próximos passos terão que ser dados com cautela, uma vez que as janelas abertas até aqui são muitas e uma tranca violada fora da ordem poderá comprometer com o andamento da narrativa. A adaptação está sofrendo bastante porque tenta condensar muitas páginas em poucas horas de tela. Os episódios acabam sofrendo com a pouca dinâmica narrativa e, mesmo assim, são grandes. O resultado disso: muitas ideias, termos, grupos, expressões que são próprias do universo fictício criado por Jordan ficam sem explicações. Por outro lado, compreendemos que se a série tiver que parar para explicar tudo o que é próprio da literatura, perdemos na qualidade da história. Até aqui, o que temos dessas três temporadas é que as escolhas feitas, podem não ter sido as melhores, mas seguem sendo satisfatórias.
Por Dione Afonso | Jornalista